domingo, 27 de setembro de 2009

FUI!




Estou saindo do blogspot e o novo endereço do Uma Pitada a Mais é umapitadaamais.wordpress.com . Lá poderão encontrar a 4ª crônica da série Vou de Ônibus. Divirtam-se e nos vemos por lá!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

AS AMARRAS IMPEDITIVAS - 2ª PARTE




Coincidências incríveis têm acontecido ultimamente. O último post gerou diversos comentários, que julguei muito construtivos. No domingo, fui ver UP, da Pixar, e me deparei com um filme repleto de referências à história do cinema, muitas das quais não reconheci por não ter visto os filmes. A obra da Pixar, já cotada por muitos como o melhor filme do ano até então, é o tipo de filmes para todas as idades, mas com qualidade inimaginável. Bem, o filme merecerá um post exclusivo mais tarde. Só quero salientar que o caráter polissêmico de UP é responsável por uma apreciação geral, independente da idade. Mesmo assim, não captei muitas das referências.

O outro fato incrivelmente relacionado ao post anterior foi a coluna de Marcelo Gleiser, no caderno Mais, da Folha de S. Paulo. Geralmente leio este caderno por último. Primeiro pelo fato de trazer pautas frias (matérias não necessariamente relacionadas ao que está acontecendo) e segundo por ter uma linguagem mais rebuscada e sofisticação dos temas.

Bem, chega de papo. Para acrescentar a tudo que já foi dito por mim e pelos ilustres visitantes desse blog no post abaixo, exponho, na íntegra, o texto de Marcelo Gleiser:


+Marcelo Gleiser

Ciência e liberdade


Nunca se deve aceitar algo só porque foi dito por uma autoridade


Já que esta coluna cai na véspera do dia da Independência, achei oportuno revisitar um tema que está sempre presente na vida da gente: a questão da liberdade. Claro que, nestas breves linhas, eu não teria a pretensão de apresentar muitos pensamentos profundos sobre o que significa ser livre. Convido apenas os leitores a uma reflexão, iluminados, como sempre, pela luz da ciência.

Quando era garoto, gostava muito de citar a seguinte frase: "Ser livre é poder escolher ao que se prender". Outra versão é: "Quanto mais chaves você carrega no bolso, menos livre você é". Não há dúvida de que a primeira é mais filosófica. (Acho que é atribuída, talvez erroneamente, ao filósofo francês Jean-Paul Sartre.) Mas ambas dizem algo de semelhante: que liberdade e escolha andam de mãos dadas.

Existem, certamente, situações em que isso não é verdade: pessoas "presas" não por terem cometido algum crime, mas por serem aprisionadas por alguma ideologia que lhes é imposta. Por exemplo, as crianças que nascem em famílias ultrarreligiosas nunca têm a opção de refletir sobre os valores que lhes são impostos. Mesmo sem carregar chaves, estão presas até crescerem o suficiente para poder (ou não) se rebelar. O mesmo ocorre com os indivíduos que vivem em regimes políticos totalitários, onde a "verdade" é controlada pelo Estado.

Ou seja, a frase "ser livre é poder escolher ao que se prender" pressupõe que o indivíduo tem a liberdade de escolha. Isso nem sempre é verdade. Para sermos livres, precisamos ter livre acesso à informação. Só assim teremos o privilégio de poder escolher ao que vamos nos prender.

Daí o papel fundamental da educação, contanto que livre de censuras ideológicas. Já em torno de 50 a.C., o poeta romano Lucrécio celebrava a importância da educação na liberdade das pessoas. Sua preocupação era com a excessiva superstição dos romanos, que atribuíam tudo o que ocorria à ação de algum deus. Consequentemente, a maioria da população vivia aterrorizada. Só aqueles que usam a razão para desvendar o porquê das coisas podem de fato ser livres, dizia.

Só quem reflete sobre as causas das coisas, em vez de atribuí-las cegamente a causas sobrenaturais, é livre dos medos que assombram a vida. A educação deve fornecer ao indivíduo a capacidade de reflexão crítica, a habilidade de saber fazer perguntas e não de aceitar passivamente tudo o que lhe é dito. Essa habilidade, esse ceticismo, é um dos aspectos mais cruciais do treinamento de um cientista. Nunca se deve aceitar algo só porque foi dito por uma autoridade.

Essa atitude é exatamente oposta ao que ocorre em culturas conservadoras e repressivas. Mesmo que a ciência busque uma ordem no mundo material, sua essência é anárquica. Os grandes revolucionários da ciência, Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, Einstein, Bohr, foram todos anárquicos a seu modo. Todos defendiam a sua liberdade de pensamento acima de tudo, recusando-se (ou quase, no caso de Galileu, sob ameaça da Inquisição) a aceitar o saber das autoridades. Para eles, ser livre é ter a coragem de pensar por si mesmo sobre os grandes problemas, na tentativa de chegar a uma verdade aceita pela maioria.

Quando penso em liberdade, penso nesses nomes, e em tantos outros -cientistas ou não- que lutaram para que hoje possamos ter a visão de mundo que temos. Se hoje somos mais livres, devemos agradecer a eles. Se há tantos longe de ser livres, é porque ainda temos muito o que fazer.


MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"


[ artigo publicado na Folha de S. Paulo de 06/09/2009, caderno Mais]

sábado, 5 de setembro de 2009

AS AMARRAS IMPEDITIVAS





Para compreender certas manifestações artísticas é preciso se desvencilhar das amarras


Nessa última semana, fui ver O Anticristo, novo filme de Lars Von Trier, diretor dinamarquês dos elogiados Dogville e Dançando no Escuro e criador do Dogma 95. O filme, polêmico desde a produção, está bem avaliado pela crítica especializada, mas, mesmo entre os mais politizados, tem causado certa repugnância por ser, dizem, pesado demais, apelativo e alguns acusam o diretor de ser sexista. De fato, são várias cenas “fortes”. Já era de se imaginar que, se a mão de Von Trier era pesada fazendo dramas políticos, no gênero terror uma acentuação de tal característica provavelmente iria ocorrer. E esse é o filme: câmera na mão, atuações profundas e cenas penetrantes.


Aviso que quem for assistir ao filme verá sexo explícito, aborto animal e automutilação. Devo crer que só a presença de um desses elementos já afastaria muita gente da sala de cinema. E caso muitos fossem ver, é fácil dizer que choveriam exclamações do tipo “Nossa, que horror!”, “Pra quê isso?”, “Olha, achei péssimo, como você me indica um filme desses?!“. Enfim, frases do tipo tia-avó descontextualizada. Na verdade, esse tipo de manifestação muitas vezes revela uma dificuldade de compreensão ou, talvez mais precisamente, uma dificuldade de aceitação para com o que é mostrado. E o grande problema é que, cada vez mais, percebe-se que “não entender é meio passo para não gostar”, o que é lamentável. Por que uma cena de sexo explícito tem que durar 11 minutos? Por que tem que mostrar o sangue? Existe isso? (essa é uma das piores).


Filmes como O Anticristo e tantos outros não são filmes fáceis. Costumam ser difíceis de digerir, densos e constantemente incomodam a plateia – no caso do gênero terror (e horror), um dos objetivos é justamente esse; incomodar. No entanto, incomodar mera e simplesmente dificilmente faz um grande filme ou uma grande ideia. Afinal, pra quê ir ao cinema simplesmente para se sentir mal? O “x” da questão é que quase sempre há um sentido para o incômodo. A arte muitas vezes representa pensamentos, acontecimentos, e estados de espírito de diversas formas: metaforização, hipérboles, analogias com o fantástico, sinédoques etc. Por que às vezes é difícil que elas sejam assimiladas? Porque muitas são extremas e destoam do que estamos acostumados a ver. Pronto, caímos na velha discussão sobre a dificuldade de entender o que é diferente.


Não conseguimos aceitar - e consequentemente entender- certas coisas porque estamos presos às amarras impeditivas.


Amarra é igual a “rabo preso”, que não existe apenas no mundo administrativo e político, mas também no campo intelectual ou ideológico. Ter uma filiação partidária é também um exemplo de amarra ideológica, por exemplo. Ser de outra época pode se tornar uma amarra caso a pessoa em questão não consiga abrir os olhos para os novos tempos. O fanatismo, o gosto por coisas determinadas, o desgosto pelo resto e o preconceito são outros exemplos. Qualquer tipo de ligação de caráter inabalável com algo, como ter uma religião ou uma crença inatingível, também é uma baita amarra.


Vejam, não estou dizendo que ninguém pode ser religioso, militante partidário ou gostar apenas de rock. Apenas exponho esses elementos para exemplificar a maneira como as pessoas são facilmente situadas num campo e se prendem a ele. Nesse sentido, tais elementos funcionam como “algemas”, impedindo que horizontes distintos se expandam. Situações do dia-a-dia servem de amostra: para um metaleiro, um cd classificado como forró é pior do que o classificado como Heavy Metal, mesmo sem que ele conheça ambos. Se eu pedir a um islâmico para que leia o livro de Richard Dawkins, é bem provável que ele me deseje os mármores do inferno só ao ler o título : Deus, um delírio.


Explicando melhor, não sou contra correntes, até porque estou preso a diversas delas. Sou, sim, contra correntes inquebráveis. Se nossa conexão com alguma coisa é impossível de ser desfeita, tendemos a tratar o oposto ou o diverso como o “errado”. Isso acontece frequentemente na nossa relação com a Arte, ao assistirmos, por exemplo, um filme que nos mostra coisas estranhas, longes do nosso universo, como é o caso de O Anticristo.
Exibo duas frases com significâncias extremamente relacionadas com o assunto:



"Uma pessoa para compreender tem de se transformar."
( Antoine De Saint Exupery )


"Temos de renunciar ao mundo para o compreender."
( Jean Grenier )




É isso. Para entender, temos que aceitar e para aceitar temos que nos desvencilhar de algumas amarras. Após esse processo, aí sim podemos exercer melhor o esperado julgamento do “gostei ou não gostei”. Do contrário, se estivermos sempre presos a algo, a aceitação inexiste, ou ocorre de forma forçada. Não reconhecendo e procurando entender o diferente, não se estabelece o diálogo. E sem diálogo não há produção de conhecimento.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vou de ônibus - III - Onde está a Carol?

Carol? Você está aí?



Entre as tragédias e comédias que vivemos e ouvimos dentro de um ônibus, diversas beiram o fantástico e estampam fatos que podem parecer impossíveis de acontecer. Coisas para serem transmitidas no "Assombrações",da Discovery Channel ou até em The Mentalist, CSI e outros suspenses policiais.

Era uma sexta-feira, à noite, e estava voltando da faculdade. O ônibus com destino certo para a minha casa parou e minha tristeza veio rapidamente quando percebi que ele estava lotado. Sem maior alarde, porém, subi e tratei de já ir para o fundo. Afinal, se é pra brincar de tropa de choque, melhor jogar já, até porque não sabia quantas pessoas mais iriam subir no veículo.

Após aquele sacrifício típico, consegui chegar ao fundo e ficar próximo à porta. O ônibus foi enchendo de uma forma que eu tinha a impressão de que, 5 pontos após eu subir, não tinha decido ninguém ainda, enquanto alguns milhares de cidadãos deviam ter embarcado.

A expressão facial e os olhares diziam o mesmo de sempre: "estamos cansados, trabalhamos o dia inteiro e apenas queremos chegar em casa!".

Tinha tudo para ser mais um dia normal de ônibus cheio. Mas não! Subiram no ônibus algumas garotas. Não consegui vê-las por motivos óbvios: havia, mais ou menos, umas 40 cabeças na minha frente. No entanto, pude ouvi-las. Elas simplesmente não conheciam o conceito de silêncio. Nada contra conversar, mas desde que em tom baixo, já que se encontravam num transporte público, lotado de pessoas morrendo de sono e com caras de múmias reumáticas. Não, as "amigas" falavam alto, com um timbre irritante e quase gritando. Pareciam combinar algum compromisso para o dia seguinte e também pareciam querer tornar o convite público.

Para minha surpresa, elas não demoraram muito para chegar ao fundo e, então, pude avistá-las e perceber que estavam com mochilas nas costas. Não deviam ter mais que 16 anos.

Conversa vai, conversa foi, até que uma delas percebeu que faltava alguém no time:

Menina 1: - Ué, cadê a Carol?

Menina 2: - Nossa, cadê a Carol, meu?

Menina 3(4957684576045 decibéis): - CAROOOOOOOOOOOOLLLLLLLLL!!!!!! VOCÊ TÁ AÍ????????

Menina 2(4957684576045 decibéis): - OH CAROOOOOOLLLLLLL!!!!!

Menina 1: - Calma gente, ela não deve ter conseguido passar, deve estar lá na frente.

Menina 2: - AH, olha ela lá! ( apontou pra frente e viu que Carol acenava, como se quisesse dizer para esperarem, pois ela já estava indo).

Menina 3: - Achou ela aí?

Menina 2: - Ela tá vindo!


Conversa vai, conversa foi...

Menina 1: - Meu, por que a Carol ainda não veio?

Menina 2: - Nossa, é mesmo neh!

Menina 1: - Meu, cadê a Carol, cara?

Menina 3: - Nossa, não é possível!

Menina 2(4957684576045 decibéis): - OH CAROOOOOOOOOOOLLLLLLLLL!!!!


(ninguém responde)

Menina 1: - Meu, tá chegando no ponto, cadê a Carol?

Menina 3: - Não to vendo ela! Ela tava lá agora mesmo(aponta para perto do cobrador, onde se encontrava Carol alguns minutos antes).

Menina 1(4957684576045 decibéis): - OH CAROL, A GENTE VAI DESCER!!!!

(ninguém responde)

Menina 2: - E agora? A gente não pode descer sem a Carol!

Menina 3: - Mas ela não tá aqui, só pode ter descido!

Menina 1: - Liga pro celular dela, neh der!


( A Menina 3 tentou ligar, mas parece que ninguém atendia)


Menina 2: - Meu, vamos descer! Já passou um ponto do nosso!


(as 3 meninas desceram preocupadas)




Não sei quem é essa tal Carol que desapareceu. Mas fico imaginando o que aconteceu com ela. Talvez ela seja a única pessoa de bom senso "do grupinho" e tenha resolvido se retirar após cansar de ouvir gritos dentro de um ônibus.


Para ilustrar uma noite já peculiar, sobe no ônibus um vendedor de trufas, com uma cesta cheia delas. Não parecia ser diferente do tipo que já conhecemos; aquele que discursa que podia estar roubando ou matando, mas está dignamente tentando arrecadar fundos para voltar pra Bahia. No entanto, o vendedor causou espanto ao anunciar os sabores das trufas que vendia:

Vendedor: - Tem 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Coco, Morango, Chocolate, Chocolate Branco, Brigadeiro, Café, Nozes, Rum e Brigadeiro.

(as expressões dos passageiros revelavam uma sensação curiosa: "estou muito cansado ou ele repetiu 3 vezes o brigadeiro?")

Como todo vendedor, ele ia passando pelo ônibus e repetindo o discurso, até que disse pela 2ª vez os sabores:

Vendedor: - Tem 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Coco, Morango, Chocolate, Chocolate Branco, Brigadeiro, Café, Nozes, Rum e Brigadeiro.

(algumas feições de espanto se transformavam em um sorriso, um riso contido, uma pequena gargalhada)

Repete pela 3ª vez:

Vendedor: - Tem 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Coco, Morango, Chocolate, Chocolate Branco, Brigadeiro, Café, Nozes, Rum e Brigadeiro.



AChei sensacional! Também vou vender trufas,Na hora de anunciar os sabores, direi:

- Tenho 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Brigadeiro, Brigadeiro, Chocolate, Alpino, Nozes, Brigadeiro, Café, Brigadeiro e Rum. Ah não, tenho 11. Faltou um: brigadeiro!



Juro que não tinha trocado. Se tivesse comprava uma trufa. Adivinhem de que sabor.


Esse merecia!



Chegou o meu ponto e desci!






Trufa de Brigadeiro!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O exotismo de André Gide

O escritor André Gide



O francês André Gide era filho de pais protestantes e deixa claro, por meio de suas poesias, a infância triste e solitária que teve. Homossexual assumido, ele sempre lutou contra qualquer tipo de moralismo ou puritanismo. Seus poemas ficaram marcados pelo exotismo.

Por acaso, nesses dias, li algo extraordinário desse autor: Os Frutos da Terra. Sem dúvida foi um dos textos que mais me impressionaram. O livro é quase um poema em prosa e aborda os nossos sentidos em contato com a natureza, tudo com um entusiasmo raro. A obra não deixa de lado o erotismo e a sensualidade.

Deixo na coluna ao lado o poema Copo de Água.

domingo, 26 de julho de 2009

Difícil? Que bom!

"A televisão me deixou burro, muito burro demais" - Arnaldo Antunes


Muitos estão cansados, esgotados e não suportam mais ver programas ruins na TV Aberta. Na Globo, líder da audiência, os mesmos apresentadores de sempre inovam muito pouco e as novelas estão cada vez piores: tramas fracas, superficiais, personagens ocos, diálogos ruins e mal interpretados. Num ato de desespero consequente da falta de criatividade, os autores e diretores apelam para os "atores de segurança", aqueles que interpretam qualquer papel e podem dar à novela um maior tom dramático ou humorístico.

Assim, nas últimas novelas tem sido comum ver Lília Cabral ou Tony Ramos, por exemplo, sendo usados para as chamadas "cenas de efeito": carente de argumentos, o roteiro cede espaço para o melodrama, que ocupa grande tempo de cena e se sustenta graças ao talento de atores que, colocados em primeiríssimo plano pelo diretor, facilmente nos fazem rir ou chorar. Tais acontecimentos muitas vezes não são significativos para a história e não encontram grande motivação artística. Mas o que isso interessa? Afinal, estamos no mundo das novelas e o modelo folhetinesco necessita de pontos no Ibope todos os dias, não se pode bobear.

Colocar Lília Cabral chorando ou Tony Ramos fazendo palhaçadas é fácil em todos os sentidos. Fácil para o autor, para o diretor, para os atores(os "de segurança", é claro) e o principal: FÁCIL PARA O PÚBLICO ENTENDER, SE EMOCIONAR E SE IDENTIFICAR, ou seja, AUDIÊNCIA!

No entanto, há de se questionar o mérito artístico. O que a novela tem a acrescentar? O que podemos aprender com ela ou, se argumentarem que não é preciso ensinar(e não é mesmo), o que ela traz de novo, de realmente interessante? Por que o mero entretenimento não pode ter mais qualidade?

Como não gosto de generalizações, digo que não são todos os autores que nos infernizam com novelas de péssima qualidade. Silvio de Abreu sabe criar ótimas tramas e é ótimo escritor de humor. Manoel Carlos sempre nos traz bons diálogos(diferentemente de melodramas baratos) e seus personagens são fortes. Mas creio serem exceções. Atualmente, o horário nobre da Globo é, em grande parte, ocupado pelo folclorismo podre de Glória Perez e derivados.

Tendo em vista toda essa lógica imperante nas grandes redes de televisão aberta do Brasil, devo imaginar o quão difícil é a aprovação de projetos ousados por parte dos diretores de programação e empresários.

MAS.............


como nem tudo está perdido, a própria Rede Globo nos surpreende às vezes. De vez em quando, surgem coisas como Hoje é dia de Maria, Capitu e, mais recentemente, Som & Fúria. Este último acabou na última sexta e seus 12 episódios trouxeram luz às trevas, exibindo uma produção impecável e um texto delicioso. Adivinha: sucesso de crítica e pouca audiência, mesmo destino já experimentado por Capitu e outras.

A Minissérie perdeu até para os filmes de Steven Seagal na Record, um verdadeiro fracasso de público. Provável motivo: " é difícil para as pessoas", diriam alguns.

Se Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, "dificultava" pela estrutura e por uma opção dramatúrgica rebuscada e incomum na TV popular, Som & Fúria, adaptado de um texto canadense por Fernando Meirelles, "dificulta" pelo tema, teoricamente distante do "grande público": o cotidiano de uma Cia Teatral pública.

Então, logo vem os "cornetas do além" dizendo que a massa popular, o povão, não pode compreender uma arte mais complexa, sendo assim, os programas de TV deveriam se rebaixar se quiserem ter audiência.

PURA BOBAGEM!

O grande público tem dificuldade de acompanhar obras mais difíceis porque não está acostumado. Falta-lhe cultura. E não é tirando as oportunidades de assistir às séries de qualidade que o problema será resolvido.

Por isso, a Globo deve insistir, procurando dar espaço para produções independentes e novos talentos da dramaturgia.

Sim, isso pode ser muit utópico e muitos dirão : " A Globo e as outras grandes empresas televisivas não estão preocupadas com a falta de cultura do povo."

Discordo. Se isso fosse verdade, pessoas como Luiz Fernando Carvalho não teriam espaço.

Além disso, as novas tecnologias, como a internet, não param de segmentar o público. Preocupar-se apenas com o ibope, produzindo porcarias, fará com que as redes de TV percam parte do público mais intelectualizado, como já está acontecendo. Além disso, subestimar a capacidade do "povão" pode ser um erro, pois a audiência já provou ser um fenômeno cíclico, submetido a idas e voltas.

Num cenário como esse, é imprescindível possuir uma programação diversificada que atenda a vários gostos. Do contrário, aquele que não está satisfeito vai procurar o produto que deseja em outro lugar. E, com as opções de hoje, ele tem onde achar.




O bom elenco de Som & Fúria, acompanhado do diretor Fernando Meirelles. Um verdadeiro colírio em tempos de Glória Perez.




Os personagens Bentinho e Capitu, na minissérie adaptada do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, e dirigida pelo criativo Luiz Fernando Carvalho. Lindeza rara.



Abaixo, poesia já publicada aqui, de Maiakovski:




Incompreensíveis para as massas

Wladimir Maiakovski


Entre o autor e o público, posta-se o intermediário.

E o gosto do intermediário
é bastante intermédio, medíocre.

Medianeiros médios pululam nos meios, onde, galopando, teu pensamento chega.
Um deles considera tudo sonolento:
"Sou homem de outra têmpera! Perdão",
e repete um só refrão:
"O público não compreenderá".

Camponês, só viu um faz tempo, antes da guerra.
Operários, deu com dois, uma vez, numa ponte, vendo subir a água da enchente.

Mas diz que os conhece como a palma da mão.
Que sabe tudo o que querem!
Aqui vai meu aparte: chega de chuchotar bobagens para os pobres. Também eles, podem compreender a arte. Logo, que se eleve a cultura do povo!
Uma só, para todos.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Genialidade?





























Apesar de não ser tarefa muito fácil, muitos já tentaram definir o conceito de genialidade. Anos depois, alguns consensos: gênio seria aquele com capacidades mentais fora do comum, podendo chegar ao brilhantismo. Pode ter tanto um intelecto extraordinariamente grande ou um talento criativo incomum. Claro, muitos gênios desenvolveram também incapacidades, muitos ficaram loucos ou tinham obsessões, compulsões e outros distúrbios. Mas o que os fez serem chamados de geniais era a diferença entre seus intelectos e os da maioria.

Schopenhauer dizia que os gênios são aqueles cujo intelecto prevalece sobre a vontade de forma muito forte.

Kant usava a ideia de aprendizagem para explicar a genialidade. Para ele, o gênio seria independente na compreensão de conceitos, não precisando que alguém o ensinasse.

Pois bem, eis que estou lendo a coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo(Sábado) quando me deparo com uma notícia assustadoramente sensacional: a revista Galileu está preparando um especial sobre "gênios brasileiros". Até aí, ótimo, sensacional a iniciativa. O assustador: dentre os gênios que serão perfilados na edição, estão Boninho, o diretor do BBB, e Chimbinha, o topetudo guitarrista da banda Calypso.


Fui conferir a informação( vai que a Mônica não dormiu direito no dia) e era isso mesmo.



Chimbinha
e Boninho: gênios brasileiros.


Obs: o perfil de Boninho está sendo escrito pelo lírico Pedro Bial. Aliás, por que não colocaram o Bial lá também? Quem sabe a Xuxa?


Bem, como nenhum comentário meu seria capaz de expressar o quanto eu passei mal ao ler a notícia, apenas proponho uma reflexão: Anatol Rosenfeld fez um grande e completo estudo sobre os gêneros literários, mas, pesquisando os gêneros humorísticos, pude chegar à conclusão de que nenhum deles chega perto do tamanho abstracionismo cômico no qual a realidade se tornou.



Chimbinha, guitarrista e parceiro da cantora Joelma na banda Calypso.





Pedro Bial e Boninho, este último considerado um gênio brasileiro pela revista Galileu, da editora Globo (opa... ah, deve ser coincidência).

sábado, 18 de julho de 2009

Cultura e Joseph Brodsky


Na coluna ao lado, sai o pessimista e entra um poeta de maior lirismo e com uma história bem curiosa. Joseph Brodsky é russo-americano e judeu. Sempre foi muito rebelde e independente. Aos 15 anos, largou a escola para apenas fazer poesia. Foi acusado, então, de "parasitismo social" pelo governo soviético e condenado a 5 anos de trabalho forçado. Um tempo depois, Brodsky se exilou nos Estados Unidos e se naturalizou.

Sua obra foi agraciada pelo prêmio Nobel de literatura em 1982.

O poema postado traz colocações muito determinadas sobre o que seria a Cultura.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

THE KING



É difícil ler aqui posts sobre esportes, ainda mais sobre um esporte específico. No entanto, resolvi quebrar minha auto-censura graças a um rapaz chamado Roger Federer.

Pensando em outros esportitas que admiro, acho entre eles características comuns como a garra, determinação, talento, personalidade, vibração, liderança etc.

Gente das antigas como Pelé,Jordan,Schumacher e até mesmo os da "minha geração", como Michael Phelps, Tiger Woods, Kobe Bryant e Rogério Ceni, não se destacam apenas por dominarem como poucos o esporte que praticam, mas também por serem verdadeiros campeões, com seus nomes emplacados em várias conquistas históricas, quebras de recordes e reconhecimento mundial incontestável.

No que se refere ao domínio do esporte, Federer segue a cartilha dos citados acima, talvez até indo além. No tênis, muitos o comparam ao que Pelé foi no futebol: um gênio à frente de seu tempo, seguro de sua capacidade absurda de fazer mágica, aparentando que tudo é muito simples e fácil. Ver Federer jogar é um "colírio para os olhos", como já disse Paulo Cleto, comentarista de tênis na ESPN e ex-técnico do Brasil na Copa Davis. Os golpes, que chegam a ser apelação de tão efetivos, são também fluentes e belos. Sua movimentação é suave, Federe desliza elegantemente na quadra e parece que nunca se cansa, nunca se esforça. Consegue crescer nos momentos cruciais, raramente "amarela".É, dentre os tenistas, o de melhor reputação; respeitado e admirado por todos que jogam o esporte e por muitos dos que não jogam. Esportividade, far play e competitividade também são palavras que ajudam a defini-lo.

Claro, como qualquer pessoa bem sucedida, Federer também é odiado e invejado. Muitos não gostam de admitir ou ainda não se conformaram com o sucesso do suíço. Mas estes formam uma parcela ínfima diante dos milhares de fãs de Roger. Entre eles, seu maior rival, Rafael Nadal, atual nº 2 do ranking.


Nesse último domingo, Roger Federer ganhou, pela 6ª vez, o campeonato de Wimbledon, talvez o mais importante slam no Tênis. Junta, então, 15 slams, passa Pete Sampras e se torna, agora também nos números, o maior tenistas de todos os tempos e voltou ao nº 1 do ranking. Apenas mais um fato, mais um número, diante do poço de talento que é Federer.


No entanto, o que talvez o diferencie dos atletas que citei no começo é sua personalidade. A elegância do suíço não se limita às quadras de tênis; Federer é sempre muito educado e sensato nas entrevistas e nas aparições fora das quadras. Politizado, preocupado com a ética esportiva(se é que ela existe). Seus jogos não precisariam de árbitro, o próprio Federer indica as bolas que foram fora ou dentro, não importando para que lado a marcação seja favorável. Devido a tal integridade, Federer foi escolhido pelos próprios jogadores como representante da categoria na ATP(Associação dos Tenistas Profissionais). Também mostrando pelo menos um pouco de preocupação humanista, Federer investe em escolas de tênis localizadas em países de 3º mundo e destinadas a formar novos atletas.

Roger Federer também conhece muito a história do tênis e respeita seus antecessores. No ano passado, em Wimbledon(Londres), Maria Esther Bueno(nossa dama do Tênis), que estava comentando o campeonato pela SPORTV, passou pelo corredor do hotel quando Federer estava dando uma entrevista. E eis que o suíço elegantemente pediu licença aos repórteres e foi em direção à ex-jogadora a fim de cumprimentá-la e confessar ser seu fã. Ela, fã efusiva de Federer, mostrou-se muito emocionada e agradecida. Maria Esther disse depois, em transmissão da SPORTV, que jamais esperava que um jogador da atual geração fosse conhecê-la, sendo que jogou há mais de 3 décadas atrás, quando ganhou muitos títulos de slam.


Roger Federer faz do tênis arte. Hoje, os nomes "tênis" e "Roger Federer" se misturam, tendo significados muito parecidos.

Por essas razões, digo que, dentre os meus maiores ídolos no esporte(são vários), Federer talvez seja o maior.

Federer é um apaixonado pelo tênis. E eu sou privilegiado de viver a sua época e poder acompanhar um dos maiores nomes da história do esporte.




Federer e sua esposa, Mirka Vavrinec, que atualmente está grávida.


O forehand de Federer em dois momentos.




Autógrafos.



Woody Allen e Russel Crowe vendo Federer jogar em Wimbledon.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Lobo Mau?

foto: Deviantart


Aviso 1: "Dois casos de gripes suína foram confirmados. As aulas estão suspensas por tempo indeterminado; trabalhos provas serão adiados para Agosto."

Aviso 2: "A diretoria decidiu pela antecipação das férias escolares uma semana antes do previsto."

Aviso 3: " Pessoal, quatro colegas nossos estão, agora comprovadamente, infectados pelo vírus H1N1. Decidimos dispensar vocês por razões de segurança, buscando evitar que o vírus se espalhe."

Aviso 4: " Ministério da Saúde: serão mantidas todas as ações para a detecção, monitoramento e tratamento de pessoas infectadas pelo novo vírus da gripe, que vêm sendo adotadas e colocadas em prática desde 24 de abril, quando foi feito o alerta inicial pela OMS."


Evacuação geral. Filas para sair dos lugares. Todos seguem o conselho: fiquem em suas casas.

Um espirro no ônibus, lotado, abafado e com janelas fechadas, torna-se um ato ofensivo, uma afronta causadora de olhares rigorosos e desconfiados.

Da gripe pouco se sabe, pouco se entende. Aqueles que procuram saber tranquilizam-se: o novo bicho papão é caracterizado por sintomas diminuídos em relação à gripe comum e o índice de mortalidade da doença é igual(para alguns cientistas, menor).

Porém, no que diz respeito à difusão dos pensamentos a respeito, pouco importa.

O importante é não pegar a infecção.

Claro, subestimar uma epidemia e fingir que está tudo bem é perigosamente negligente. Mas, novamente, digo que o que move as pessoas é o medo.

Não precisa de máscara para que todo mundo saia correndo.


Bush sabe da veracidade da frase marcada no final do texto. Assim, usou a política do medo para ser, por duas vezes, presidente dos Estados Unidos da América.

domingo, 28 de junho de 2009

Blog em obras - ou em mudança






Como puderam perceber, estou sem postar aqui, o que, admito, é péssimo.

Tenho explicações, que talvez sejam meras desculpas esfarrapadas. Porém, a verdade é que agora terei tempo e voltarei a publicar.

Enquanto isso, na coluna ao lado, deixo um pequeno, mas muito característico, trecho da obra de Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, da escola kantiana, precursor da psicanálise e muito famoso pelo pessimismo. Também é responsável por introduzir o budismo.

O escrito ao lado se refere à modéstia.

De pensamentos intragáveis para alguns, Schopenhauer é agressivo, seco e rude na colocação. Mas, pelo pouco que li, seu estudo acerca do comportamento humano parece fascinante.


Filosofia da Morte

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Solidão - "O Silêncio das Estrelas"

fonte: DeviantART

A solidão, como uma sensação de vazio ou isolamento, é um sentimento poderoso. Muitas vezes amedrontadora, a solidão é, de vez em quando, necessária. Há pessoas que "funcionam" melhor sozinhas, enquanto outras só engatam se estiverem acompanhadas.

Estar sozinho, em qualquer sentido, pode ser benéfico ou maléfico dependendo do que se analisa e do ponto de vista, é claro.

No entanto, o que me preocupa é o medo que as pessoas têm da solidão. Uma hora ou outra estaremos sozinhos e precisamos aprender a conviver com isso.

O medo da solidão causa algo muito pior do que ficar sozinho: a hipocrisia de relações orientadas pela conveniência. Explico: uma pessoa pode namorar, ter muitos amigos, contatos, ter centenas de pessoas na sua festa de aniversário e, mesmo assim, ser solitária. Se tais relações NÃO são ocasionadas pela vontade pura de estar com essas pessoas e sentir-se bem com isso, tapa-se o sol( solidão) com a peneira.

A quantidade de namoros e amizades cretinamente convenientes é assustadora.

A relação é simplificada e ao mesmo tempo vulgarizada, piorada: não tenho ninguém, ela também não; sou legal, ela também; então "é nóis". O que é razão suficiente para uma boa ficada ou até uma convivência situacional acaba por sustentar um compromisso desmedido,onde as pessoas não nutrem um sentimento real, mas escolhem o caminho mais fácil, menos trabalhoso, optanto por ter uma vida com uma pessoa que gosta e respeita - mas não ama- e amigos dos quais fala mal quando não estão perto.

"Ah, mas eu gosto dele!" - Gosta mesmo? Ou tem pavor de não achar mais ninguém se acabar a relação? Ou seja, impera a lógica do "assim já tá bom",ou coisas do tipo, como o "não tem cão, caça com gato" e outras frases nojentas do mesmo naipe, representativas do medo de não conseguir algo melhor e ficar só.

Por que continuar com essas relações? Porque é muito mais simples do que correr riscos indo por um trajeto mais espinhoso. Porém, muitas vezes, o mais difícil é o certo.

Ninguém quer ficar sozinho por muito tempo, mas aqueles que conseguem se dar melhor com a solidão são mais capazes de originar ligações verdadeiramente frutíferas e honestas com outras pessoas, pois aproveitam as relações por total escolha e não as usam como remédios para suas incapacidades.

fonte: DeviantART




Sobre esse assunto, Lenine fez uma linda canção, onde canta "um homem em busca de mais", chamada Silêncio das Estrelas, do álbum Falange Canibal. Você pode ouvir aqui. É só clicar no título da música.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vou de ônibus - capítulo 2




























Geralmente, por motivos óbvios que envolvem uma certa distância física, o motorista não costuma conversar com o cobrador durante o trajeto do ônibus. Claro, é bem provável que eles tomem um cafézinho ou outra coisa juntos depois da parada final.

Bem, era uma quinta-feira, à tarde. Entrei no ônibus e logo o papo começou. Não me contive: peguei um caderno e comecei a anotar. Transcrevo aqui parte do diálogo:

MOTORISTA: Você viu o Geraldo?

COBRADOR: Que Geraldo? O Botijão?

M: Isso... O Botija!

C: Que tem?

M: Vai ter que pagar R$2500 de pensão.

C: Pô! Separou?

M: Separou pô, faz tempo!

C: Largou a mulher...

M: Ah, mas tava demorando...

- breve pausa-

M: Mas então, R$2500 de pensão. A mulher entrou com processo e ganhou.

C: Mas "daonde" que ele vai tirar isso aí?

M: É, não vai tirar neh...

C: eita...

M: Tem duas filhas neh...

C: Ah, mas uma já é de maior.

M: É, deve ter uns 18.

C: Tá arranjada já?

M: Tá, parece que tem até apartamento.

C: É, essa aí de boba não tem nada...

M: Só a cara.

C: E a outra?

M: A outra deve ter uns 15.

C: Xi, já já se arranja também. Quem quer a grana é a mulher neh? Esse papo de que é pras filhas é lorota.

M: É... se pensar bem, a mulher deve ter se arranjado com outro já.

C: Pô! Essa mulher aí tá pior que a mulher do Cenoura.

M: Mulher do Cenoura? Que tem a mulher da Cenoura?

C: Você não ficou sabendo?




Tive que descer, que pena!


Sensacional!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mudanças

fonte desconhecida



Este blog passará por transformações muito em breve. Os motivos são simples: quero mais recursos, mais alternativas e, cá entre nós, colocar um vídeo aqui é um verdadeiro inferno. Já deixei de escrever muitos posts que tinham um vídeo como objeto principal. Assim, comecei a pesquisar outros sites que hospedam blogs e, com todo o respeito ao saudoso blogspot, há diferenças gritantes.


E vamo que vamo!



Indo...



Eis o caminho...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Enrique Gómez-Correa

O ensaísta Enrique Gómez-Correa


Na coluna ao lado, sai o saudoso Bandeira e entra um poeta que descobri há pouco tempo. Enrique Gómez-Correa é um poeta chileno, do meio do século XX, e fez parte da geração do grupo Mandrágora, espécie de sociedade literária de filiação assumidamente surrealista. Gómez-Correa é provocativo ao extremo e me admira sua coragem ao tratar de questões polêmicas- como religião- com uma explosão franca e destemida.


Tá aí do lado!

sábado, 9 de maio de 2009

Fala Cristovam!

Cristovam Buarque


Foi ex-Ministro da Educação e ex-governador do Distrito Federal. Criou o programa Bolsa-Escola. Escreveu 18 livros sobre temas de economia, educação, sociologia e história e é ex-reitor da Universidade de Brasília.

Sempre tive muito respeito por Cristovam Buarque. O Senador é um dos poucos do desvalorizado grupo congressista que se salvam. Sempre muito lúcido, Cristovam tem a melhoria da educação básica do povo brasileiro como base de seus projetos. Defende investimentos objetivos na melhor estruturação do ensino público, além de exercer atividade dinâmica na produção de projetos verdadeiramente progressistas, sempre visando um futuro do qual estamos longe.

Muitos o chamam de utópico e dizem ser sua proposta humanista uma bobagem idealista. Porém, a feição de seu discurso representa um dos ideais mais lindos a se perpeturar.

Em meio à obscuridade do congresso na atualidade, lembro de um discurso emocionante de Cristovam.

Há algum tempo atrás,em um debate numa Universidade americana, Cristóvam Buarque foi perguntado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.
Quem perguntou disse que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta de Cristóvam Buarque:

"Como brasileiro eu simplesmente falaria contra a
internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.
Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se sob uma ética humanista, a amazônia deve ser
internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.
Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Neste momento, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos Estados Unidos. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os Estados Unidos querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os candidatos a presidência dos Estados Unidos em defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir a escola. Internacionalizemos as crianças tratando todas elas como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro, ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, ou que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"



SENSACIONAL!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"A Água e os Sonhos"

foto: deviantART

Tenho sonhado muito com água: cachoeiras, mares, rios e principalmente chuvas. Não sei o motivo e também não irei atrás daqueles intépretes dos sonhos, pois tenho medo do poder de associação que eles têm. Se você sonhou com uma banana, cuidado. Isso pode ter muitos significados(nossa, que exemplo infeliz).

O fato impressionante é que, na última quinta-feira, estava na biblioteca procurando um artigo, encontrei o livro que queria e, ao puxá-lo, outro livro no fim da estante caiu no chão. Quando abaixei para pegar, eis o título: "A Água e os Sonhos", do filósofo francês Gaston Bachelard. O que torna o acontecimento mais interessante é o fato de que aquele livro não devia estar ali. Procurava um artigo na seção onde se localizam as teses, que fica muito longe das prateleiras que portam os livros de filosofia. Fui perguntar para a atendente e ela também estranhou.

Não tinha jeito, tinha que pegar o livro e ler. Para minha surpresa, o livro estava reservado para aquele mesmo dia.

Como se já não bastasse, ao abrir o caderno Mais! na Folha de ontem, vejo um artigo do Jorge Coli que comentava sobre a apresentação da ópera "Pelléas et Mélisande", no Teatro Amazonas de Manaus, e fazia um paralelo com... adivinhem ... sim, com "A Água e o Sonhos".

Não, não estou achando que é uma pista ou um alerta divino. Mas é inegável a natureza intrigante do acontecimento.

Pra terminar, transcrevo do livro um trecho que me chamou atenção:

"Há sempre um silêncio extraordinário... Ouviríamos a água dormir. Parece que, para bem compreender o silêncio, nossa alma tenha necessidade de ver alguma coisa que se cale; para ter certeza do repouso, tem necessidade de sentir perto dela um grande ser natural que dorme."



imagem: deviantART


"Sonhos", de Akira Kurosawa. Obra-prima do cinema, filme que recomendo com entusiasmo total.

Mais uma cena de "Sonhos"

domingo, 26 de abril de 2009

A vida começa aos 70?

Segura o cara! Ou melhor, não segura não...


O ano era 2007. Quem acompanhava a premiação do Globo de Ouro, em janeiro daquele ano, pode ver Warren Beaty, 72, subir ao palco para receber o prêmio Cecil B. DeMille, homenagem feita pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood àqueles que construíram uma grande e influente carreira cinematográfica. Ou seja, é, em seu conceito, um prêmio para artistas que "já deram" muito ao cinema; diretores ou atores de certa idade que estão, de certa forma, aposentados. Beaty,emocionado, subiu ao palco e fez um dos discursos mais lúcidos e impressionantes que já vi. Disse que se orgulhava de seu legado artístico, de seus prêmios e agradeceu às pessoas que possibilitaram toda a sua brilhante carreira. Afirmou que houve um momento de sua vida em que ele sentiu que estava envelhecendo: a imaginação não fluía, os roteiros passaram a ficar desleixados, as atuações preguiçosas etc. Logo após, desviou os olhos em direção a Clint Eastwood, sentado numa das mesas da frente pois concorria duplamente como melhor diretor por "Cartas de Iwo Jima" e "A Conquista da Honra". "Clint, eu tenho ódio de você!", disse Beaty, arrancando risadas da plateia. "Você é mais velho que eu, fez muitos mais filmes que eu e ganhou mais prêmios que eu. Tem a carreira dos sonhos e, ao invés de estar vivendo numa casa perto de um lago, fumando um charuto e bebendo whisky, você me faz dois filmes sobre a 2ª Guerra, abordando dois pontos de vista diferentes, viajando pelo mundo para realizar tomadas difíceis e, além de tudo, ainda faz a trilha sonora", completa o premiado. Clint, visivelmente sem graça, apenas acenava elegantemente.


A verdade é que Beaty estava certo. Clint Eastwood é ator desde o começo da década de 50. A maioria de seus filmes eram de baixo orçamento, filmes B, nos quais fazia sempre o mesmo papel: o cara macho, durão, rude e que estava acima da lei. Nunca foi grande ator, mas teve oportunidade de conviver com ótimos diretores, como Sérgio Leone. Fez muitos faroestes e teve em Dirty Harry um de seus grandes personagens. Tendo tudo isso em vista, a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood deu a Eastwood o Cecil B. DeMille, em 1988. Afinal, Clint tinha 58 anos e, provavelmente, ninguém esperava muito dele.

E...

poderia ficar 456874506475864705867406 anos aqui escrevendo, mas as imagens dizem melhor o que Clint fez depois disso:



Dirigindo Forest Whitaker, em "Bird", biografia de Charlie Parker. O curioso é que ele ganhou o próprio globo de ouro de melhor diretor, além de indicação à Cannes, um ano após ter ganhado o "prêmio dos aposentados"
Aos 62, dirige e atua em "Os Imperdoáveis". Chovem prêmios, como o Oscar de filme e diretor para o velho.
Aos 65 anos, dirige e atua com Meryl Streep em "Pontes de Madison"
Só dirigindo agora, aos 73. "Sobre meninos e lobos" também foi muito premiado e Clint se consagrava com um cinema de 1ª.
74 anos. Dirige e volta a atuar em "Menina de Ouro". Premiações despencam: Clint repete a dobradinha no Oscar e leva Direção e Filme. Hilary Swank leva o Oscar de atriz.
Aos 76, Clint faz filme sobre heroísmo que discute o que é o heroi verdadeiro e o fabricado. Tema muito semelhante ao último post deste blog. De novo, chovem prêmios.
Ainda aos 76: filme falado em Japonês. Talvez um dos mais lindos filmes de Clint. E dá-lhe prêmios de direção pro cara.
Aos 78, dirige Angelina Jolie, em "A Troca"
78 ainda. "Gran Torino", que filme! Mais uma vez, Clint dirige a si mesmo e ajuda na trilha sonora.





ACABOU?





NÃO!

Olha o cara aí! Atualmente dirigindo Matt Damon, num filme sobre Nelson Mandela, que será interpretado por Morgan Freeman. O velho não para!







Não é apenas aumento de produção. Clint só melhora, fez seus grandes filmes após os 70. Como diretor, é um dos melhores da atualidade; trata de temas profundos com um toque esteticamente classicista, equilibrado, sendo reconhecido pela sua habilidade na composição de planos. Longe dos mandamentos hollywoodianos, Clint é um diretor sem medos, não se acomoda, vai atrás de conhecimento puro e realista para compor seus filmes. Já atingiu uma maturidade que lhe permitiu filmar os temas que quer, da maneira que quer(muitos o consideram pessimista), com uma segurança ímpar, que transparece para os espectadores que notam a concisão da direção nos filmes de Eastwood. ARTE das grandes.


Que o cara viva e faça cinema até os 200 anos.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Onde estão os heróis?

Superman


Tema preferido de estúdios hollywoodianos e de histórias em quadrinhos. Figura frequente em grandes épicos. Para alguns uma bobagem romântica, para outros uma necessidade: o heroísmo.



Muitos sociólogos já criticaram a sociedade ocidental pela necessidade de se ter um herói e um inimigo. Não é a toa que essa é a abordagem de várias coberturas jornalísticas: se não há um herói e um bandido, vamos inventá-los. Assim, há personalidades que ganham o status de herói, muitas vezes exagerado, por representarem algo de benéfico para a sociedade. Vários esportistas se enquadrariam aí: Pelé, Senna, Guga e até aquele obeso que usa a atual 9 do Corinthians. Na política, aqueles que simbolizam mudanças, sinal de novos tempos e avanços democráticos também são tratados com tal honraria. É o caso de Obama e, para muitos, Lula. Com os inimigos, ocorre da mesma forma: Bin Laden, Saddam, Hitler e outros são "figuras do mal" na óptica da maior parte do ocidente.

Se não há um verdadeiro herói por força dos fatos, o roteiro cria um. A mesma coisa ocorre com o inimigo. Ou seja, criam-se heróis falsos e irreais, enquanto há a satanização de outros. Louva-se Daguerre por ter inventado a fotografia, mas todos os cientistas anônimos que possibilitaram diversos avanços favoráveis à fixação da imagem no século XVIII são esquecidos. Assim como a fotografia, o telefone, a TV, o computador e muitas outras invenções não são obra de uma pessoa só, e sim resultados de um processo longo que contou com a participação de muitos indivíduos.

Mesmo assim, acredito em heróis. Creio que existem certas pessoas que mudaram concepções e influenciaram pensamentos por poder de suas individualidades. Sem dúvida, Pelé tinha grande equipe ao seu lado, mas fez coisas inimagináveis, não é apenas consequência de um bom sistema. Ghandi não só pensava de forma peculiar, como também convenceu pessoas e enfrentou hierarquias baseado em uma visão de mundo muito particular. São heróis.

Muitas vezes, os heróis são associados à predestinação. São "os escolhidos", assim como Neo, de Matrix.

Não sei. Mas pensando em heróis, fui procurar os meus. Será que tenho algum? Será que minha geração tem heróis? Eles estão em falta? Afinal, precisamos deles?


é...




Tenho ídolos. Mas aí é diferente. Muitos deles até podem ser heróis. Ainda assim, John Lennon, Guevara, Ghandi, Chaplin já estão mortos.

Faltam grandes figuras.

Então pensei: serei menos exigente e vou procurar pseudo-heróis. Não adiantou. Nem no esporte, fábrica de pseudo-heróis, achei alguns que prestassem: Rogério Ceni está de muletas e Roger Federer não consegue mais passar nem das semi-finais.

Está difícil.

Se ainda fosse questão de meus heróis terem "morrido de overdose", estaria mais aliviado, pois me restaria a lembrança, o saudosismo.


Mas não, os heróis parecem estar escondidos.



foto DeviantART
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