terça-feira, 31 de março de 2009

Quanto custa o CQC?

Trupe, equipe, elenco...





Discuti com muitas pessoas durante essa semana a respeito do CQC(Custe o Que Custar), programa da BAND. Julgo o melhor programa humorístico da TV. A bancada de apresentadores é sensacional, ultimamente estou vendo graça até nas piadas de humor bobo do Marco Luque. Rafinha Bastos também é ótimo; utiliza um humor hábil e inteligente, sabendo sair do script. Os dois juntos com o líder da galera Marcelo Tas se divertem de verdade na apresentação ao vivo. E nós embarcamos juntos. Dos repórteres, é notável o brilho de Danilo Gentili, uma das mentes do CQC.

Poderia continuar minha série de elogios, mas prefiro deixar para os analistas de TV. Quero, agora, trazer uma discussão muito interessante sobre o nº de propagandas que o CQC faz e o quanto isso pode comprometer o programa. Devo lembrar que a maioria dos integrantes são jornalistas diplomados e um dos grandes méritos do programa é fazer um humor jornalístico, baseado em fatos, no real e não criando situações constrangedoras, como faz o Pânico. O distanciamento crítico torna-se essencial para se fazer uma piada politizada ou até um quadro de denúncia, como o excelente "Proteste já".

Diante disso, há um artigo esplêndido de Bia Abramo, publicado na Folha de S. Paulo no início desse mês. Você pode ler o texto aqui. (basta descer até o artigo entitulado "CQC e os limites da propaganda", de Bia Abramo)

Nesse último domingo, como se estivesse "dando corda", a Folha de S. Paulo publicou uma pequena entrevista bem provocativa com o inteligente Marcelo Tas. (é o 1º artigo da página)




Obs: Todos sabemos que a televisão vive de propaganda e que ela é necessária até certo ponto econômico. Não é isso que estou discutindo. Estou colocando em pauta um questionamento sobre o limite da publicidade e sua interferência no conteúdo e na liberdade do comunicador.




Ernesto Varela não fazia propaganda.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O outro lado de Stephen King

Ele, "o cara".




Sou fã absoluto de Stephen King, escritor americano conhecido como "O Mestre do Terror Moderno". E concordo com a afirmação, quem já teve a oportunidade de ler os livros ou assistir os filmes "O Iluminado", "Carrie - a Estranha", "Louca Obsessão", "It-uma obra-prima do medo", "The Langoliers(Fenda no tempo)" ou até mesmo a série "Kingdom Hospital" também aceitará o fato de que King é especialista em fazer-nos suar frio, levar sustos e termos insônia. Na verdade, o grande mérito é sua habilidade em "encafifar", essa é a palavra, ficamos "encafifado" com o sentido lógico das coisas após ver ou ler um Stephen King. E, claro, digam o que disserem, não nego que ele é deveras comercial e produziu muitos planfetos de 5ª categoria que nem merecem nomeação de obra literária. No entanto, creio que ASSUSTAR É FÁCIL, "ENCAFIFAR" NÃO É- mas isso é assunto pra outro post.

O que quero dizer aqui é que King é diferente dos outros escritores desse naipe. Além de seu repertório de obras que amedrontam, ele produziu muitas das histórias mais lindas que já li. Sabe como poucos sair do seu território e mostrar outra espécie de sensibilidade. Às vezes, mesmo sem largar o tom misterioso, King escreve sobre a compaixão, a convivência humana, a solidariedade e sobre fé- sim, sobre fé. É o caso de "O Corredor da Morte", que originou o filme "À Espera de um Milagre". Aproveitando o embalo, tomo a liberdade de parar de escrever e propagandear outros filmes de King capazes de arrancar lágrimas, emocionar e provocar uma profunda reflexão sobre valores nobres e um pouco esquecidos como AMIZADE.


À Espera de um Milagre(The Green Mile, 1999), dirigido por Frank Darabont. História adaptada da mini-série literária "O Corredor da Morte" , de 1996. Como se a força do enredo não bastasse, o filme ainda é impecável no aspecto técnico. King usa o fantástico para metaforizar as relações humanas. Filme injustiçado nas premiações daquele ano; concorreu a tudo e não ganhou nada.

Novamente sobre prisão, Um Sonho de Liberdade(The Shawshank redemption, 1994), dirigido por Frank Darabont e adaptado da novela "Os condenados de Shawshank", do livro "As Quatro Estações". Comovente e premiado drama sobre a amizade. Mesmo nos livros de terror, Stephen King já demonstrava um apreço especial pela infância, mais precisamente a pré-adolescência. Conta Comigo(Stand By Me, 1986) é uma bela história sobre a infância. A riqueza de detalhes e sub-histórias na narrativa nos faz pensar que King viveu exatamente tudo o que conta.
Outra imagem de Conta Comigo(Stand by me).
Lembranças de um Verão(Hearts in Atlantis, 2001), adaptado do livro "Hearts in Atlantis", de 1999. É quase um conto de fadas, repleto de mistérios intrigantes. Novamente, a infância é retratada com sensibilidade, através de um personagem que relembra as etapas de sua vida, lembrando do verão em que conheceu um senhor(Hopkins) que mudou a sua vida.
Imagem de "Lembranças de um Verão".

sexta-feira, 20 de março de 2009

O que ele tem? Chamem o House!!!

Hugh Laurie, intérprete do médico "sabe-tudo" House, personagem central de série americana transmitida pelo Universal Chanel aqui no Brasil.



Sim, leitor, é isso mesmo. Este blog ficou parado por vários dias, devido a minha retirada de campo por ordem médica. Fiquei internado durante uma semana para ter um diagnóstico, que, no final, revelou-se simples e fácil. Não, não tenho nada, ainda bem. Mas só um batalhão de exames para comprovar isso e dar o tão esperado sossego. Onde estava o House? Será que ele só trabalha nos EUA?

O que interessa é que agora estou bem, ativo, vivo e enérgico. E louco para voltar a escrever.


Diante de tal experiência, nada mais justo e apropriado do que um post "médico".



Devo dizer que não foi nada fácil, é como viver numa realidade paralela, num mundo diferente. A imobilidade, a tristeza no rosto das pessoas, a ingratidão do local e os corredores monótonos e sem fim fizeram tudo parecer um filme do Stephen King. Dizem que ficar muito tempo preso em algum lugar é psicologicamente perigosíssimo. Devo acrescentar que o grau de perigo aumenta 934573948756935 milhões de vezes se o local é um hospital.

NO ENTANTO, é impossível não mudar várias concepções a respeito de muitas coisas após esse período internado. A convivência diária com pessoas possuidoras de problemas muito maiores que o seu, com familiares e acompanhantes que estão lá todo dia transmitindo sua força e apoio e a alegria e o bom humor de alguns mesmo em situações difíceis fizeram com que saísse de lá outra pessoa; dando valor a coisas que não me importava, enxergando aspectos que antes estavam escondidos e vibrando com o que era banal.

Já ouvi dizer que "os médicos cuidam da doença, quem cuida de você são os enfermeiros". Faço uma correção: os médicos tentam cuidar da doença, as enfermeiras tentam administrar o setor e quem cuida do paciente são os chamados auxiliares de enfermagem. Tive o prazer de conhecer alguns desses profissionais que ficam com a parte mais difícil e chata do trabalho: o auxílio direto ao paciente que não consegue se locomover, a alimentação, medição de temperatura, pressão etc. Muitos deles exercem a profissão de cabeça erguida, sorrindo e, assim, fazendo brotar alegria num quarto de hospital, algo tão difícil quanto fazer fogo na água.

Quando paro pra pensar, tento fazer com que minhas lembranças me reportem essas pessoas, que conseguem iluminar a escuridão.





Estar num hospital é confrontar-se com seus maiores medos. Stephen King, que já esteve à beira da morte, despejou seu olhar feroz a respeito de hospitais nessa série americana: Kingdom Hospital.


Patch Adams pregava, antes de tudo, o bem-estar do paciente. A grande maioria dos médicos não é que nem ele, mas ainda existem profissionais que acreditam ser a alegria o maior remédio.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Diversidade = dificuldade ?

foto: Deviantart


Qualquer vida passa por alterações básicas, tais como mudar de emprego, entrar para uma universidade, arranjar uma namorada, terminar um namoro, mudar de casa, mudar de cidade etc. É até óbvio dizer que nenhum delas é fácil. Resta tentar entender o porquê de ser tão difícil. Uma das explicações mais razoáveis talvez esteja no "choque do novo" ou "choque do diferente". Assim que você sai da sua normalidade e experimenta outro lugar, outras pessoas e outras situações, a casa cai!

Na minha época de cursinho, Roberto Juliano, excelente professor de literatura, dizia que não conseguíamos ler Sagarana(Guimarães Rosa) porque não queríamos tentar entender um mundo que é totalmente diferente do nosso. Para ele, a compreensão do livro de Guimarães Rosa era uma questão de "descer do pedestal". Julgávamos o livro um "porre", porque retrata vidas distantes da nossa realidade, implicando em um vocabulário totalmente diferente, gestos estranhos, atitudes que parecem infundadas etc. Trata-se de mais um exemplo da nossa inabilidade para lidar com o diferente, com o novo. Segundo Juliano, a mediocridade e a estagnação do conhecimento acontecem ao querermos nos aproximar apenas do que é semelhante a nós. Um exemplo útil é que, logo após conhecer alguém "interessante", um dos elogios que costumamos fazer é "nossa, ela se parece tanto comigo, também gosta disso, também curte aquilo". Roberto Juliano diria: "Então você não gosta da pessoa, você gosta é de você mesmo!".

Tudo seria diferente, entretanto, caso não fossemos tão covardes e cegos. Covardes porque o que gera a dificuldade de lidar com o novo é , basicamente, o medo. Cegos porque não conseguimos enxergar o quanto a diversidade é benéfica e a convivência com pessoas e situações cada vez mais diversas só nos acrescenta conhecimento, além de expandir nossa mente, fazendo com que olhemos para os outros de outra forma e aprendamos mais sobre tudo e nós mesmos.




Enriquecer, pintar usando várias cores, num verdadeiro mosaico... por que é tão difícil?



foto: Deviantart

domingo, 8 de março de 2009

Uma recusa e uma explicação

Dois leitores deste blog sugeriram um post sobre o caso do estupro da menina de 9 anos - aqueles que não estiverem bem informados podem "dar um google" ou procurar as notícias sobre o caso em portais noticiosos. Recebi pedidos para escrever sobre a atitude do arcebispo de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, que excomungou a família e os médicos que realizaram o aborto da menina que foi estuprada e não excomungou o estuprador. Segundo o arcebispo, o aborto é um crime muito maior que o estupro. Ele deixou claro que ninguém tem o direito de tirar uma vida, ou seja, colocou-se a favor do término da gestação, a favor de uma menina de 9 anos ter um bebê. O bispo diz ter se baseado na "Lei de Deus", que, segundo ele, é muito maior que as leis humanas.

Poderia dedicar um post imenso comentando a decisão polêmica do arcebispo. Mas quero explicar que não farei isso porque teria muitas dificuldades de manter o controle e não desrespeitar a religião dos outros, já que são inúmeras as minhas discordâncias com certos pensamentos religiosos e não conseguiria o discernimento necessário para opinar sobre o caso apenas.

Ao invés de um discurso, que seria agressivo e sincero, quero expressar, em uma palavra, o que senti lendo as declarações do bispo: NOJO!

terça-feira, 3 de março de 2009

Marcelo Yuka e a paz que ninguém quer

foto: o globo Marcelo Yuka


http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1023152-5606,00.html


A notícia é a mesma que lemos sempre. A vítima atende pelo nome de Marcelo Yuka, fundador do O Rappa e combatente da violência urbana desde que se iniciou na vida artística. Yuka é paraplégico, também devido a outra violência sofrida há pouco tempo.

Longe de ser um músico competente ou um artesão de belas melodias, Yuka é um dos letristas de maior sagacidade poética de sua geração, além de escrever como poucos sobre os conflitos reais do cotidiano brasileiro. É catastrófica a perda da riqueza poética nas letras do O Rappa após a saída de Yuka. Falcão é um intérprete poderoso e a banda pulsa, principalmente ao vivo, como poucas no cenário nacional. Mas as canções já não impressionam mais, são meras "tentativas" de semelhança com a arte de Yuka.

A luta de Yuka contra a violência não é aquela panfletagem barata que estamos acostumados a ver em artistas do mesmo naipe musical. Seus textos e sua ação abordam a violência como um processo, parte de um sistema complexo do qual fazemos parte, colaborando em suas causas e sentindo suas consequências. Não é discurso sociológico cuspido e sim uma obra consciente e reveladora, fruto da observação e sensibilidade do rapaz.

A grande obra que revela o talento do ex-bateirista chama-se Lado B Lado A, disco da banda O Rappa, lançado em 1999. Nele, Yuka diz: " Faltou luz, mas era dia. O Sol invadiu a sala, fez da TV um espelho, refletindo o que a gente esquecia". Isso, minha gente, chama-se poesia. E, por favor, bem distinta de pseudo-manifestações- acerca de armas, tiros e favelas- que sobram por aí.

Sobre a relação de Yuka com a violência, há um texto bem enxuto mas que diz o necessário, escrito por Gilberto Dimenstein em sua coluna na Folha Online. O link:http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u511433.shtml







foto: deviantart
"... apontada para a cara do sossego..."