quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vou de ônibus - capítulo 2




























Geralmente, por motivos óbvios que envolvem uma certa distância física, o motorista não costuma conversar com o cobrador durante o trajeto do ônibus. Claro, é bem provável que eles tomem um cafézinho ou outra coisa juntos depois da parada final.

Bem, era uma quinta-feira, à tarde. Entrei no ônibus e logo o papo começou. Não me contive: peguei um caderno e comecei a anotar. Transcrevo aqui parte do diálogo:

MOTORISTA: Você viu o Geraldo?

COBRADOR: Que Geraldo? O Botijão?

M: Isso... O Botija!

C: Que tem?

M: Vai ter que pagar R$2500 de pensão.

C: Pô! Separou?

M: Separou pô, faz tempo!

C: Largou a mulher...

M: Ah, mas tava demorando...

- breve pausa-

M: Mas então, R$2500 de pensão. A mulher entrou com processo e ganhou.

C: Mas "daonde" que ele vai tirar isso aí?

M: É, não vai tirar neh...

C: eita...

M: Tem duas filhas neh...

C: Ah, mas uma já é de maior.

M: É, deve ter uns 18.

C: Tá arranjada já?

M: Tá, parece que tem até apartamento.

C: É, essa aí de boba não tem nada...

M: Só a cara.

C: E a outra?

M: A outra deve ter uns 15.

C: Xi, já já se arranja também. Quem quer a grana é a mulher neh? Esse papo de que é pras filhas é lorota.

M: É... se pensar bem, a mulher deve ter se arranjado com outro já.

C: Pô! Essa mulher aí tá pior que a mulher do Cenoura.

M: Mulher do Cenoura? Que tem a mulher da Cenoura?

C: Você não ficou sabendo?




Tive que descer, que pena!


Sensacional!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mudanças

fonte desconhecida



Este blog passará por transformações muito em breve. Os motivos são simples: quero mais recursos, mais alternativas e, cá entre nós, colocar um vídeo aqui é um verdadeiro inferno. Já deixei de escrever muitos posts que tinham um vídeo como objeto principal. Assim, comecei a pesquisar outros sites que hospedam blogs e, com todo o respeito ao saudoso blogspot, há diferenças gritantes.


E vamo que vamo!



Indo...



Eis o caminho...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Enrique Gómez-Correa

O ensaísta Enrique Gómez-Correa


Na coluna ao lado, sai o saudoso Bandeira e entra um poeta que descobri há pouco tempo. Enrique Gómez-Correa é um poeta chileno, do meio do século XX, e fez parte da geração do grupo Mandrágora, espécie de sociedade literária de filiação assumidamente surrealista. Gómez-Correa é provocativo ao extremo e me admira sua coragem ao tratar de questões polêmicas- como religião- com uma explosão franca e destemida.


Tá aí do lado!

sábado, 9 de maio de 2009

Fala Cristovam!

Cristovam Buarque


Foi ex-Ministro da Educação e ex-governador do Distrito Federal. Criou o programa Bolsa-Escola. Escreveu 18 livros sobre temas de economia, educação, sociologia e história e é ex-reitor da Universidade de Brasília.

Sempre tive muito respeito por Cristovam Buarque. O Senador é um dos poucos do desvalorizado grupo congressista que se salvam. Sempre muito lúcido, Cristovam tem a melhoria da educação básica do povo brasileiro como base de seus projetos. Defende investimentos objetivos na melhor estruturação do ensino público, além de exercer atividade dinâmica na produção de projetos verdadeiramente progressistas, sempre visando um futuro do qual estamos longe.

Muitos o chamam de utópico e dizem ser sua proposta humanista uma bobagem idealista. Porém, a feição de seu discurso representa um dos ideais mais lindos a se perpeturar.

Em meio à obscuridade do congresso na atualidade, lembro de um discurso emocionante de Cristovam.

Há algum tempo atrás,em um debate numa Universidade americana, Cristóvam Buarque foi perguntado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.
Quem perguntou disse que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta de Cristóvam Buarque:

"Como brasileiro eu simplesmente falaria contra a
internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.
Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se sob uma ética humanista, a amazônia deve ser
internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.
Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Neste momento, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos Estados Unidos. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os Estados Unidos querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os candidatos a presidência dos Estados Unidos em defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir a escola. Internacionalizemos as crianças tratando todas elas como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro, ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, ou que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"



SENSACIONAL!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"A Água e os Sonhos"

foto: deviantART

Tenho sonhado muito com água: cachoeiras, mares, rios e principalmente chuvas. Não sei o motivo e também não irei atrás daqueles intépretes dos sonhos, pois tenho medo do poder de associação que eles têm. Se você sonhou com uma banana, cuidado. Isso pode ter muitos significados(nossa, que exemplo infeliz).

O fato impressionante é que, na última quinta-feira, estava na biblioteca procurando um artigo, encontrei o livro que queria e, ao puxá-lo, outro livro no fim da estante caiu no chão. Quando abaixei para pegar, eis o título: "A Água e os Sonhos", do filósofo francês Gaston Bachelard. O que torna o acontecimento mais interessante é o fato de que aquele livro não devia estar ali. Procurava um artigo na seção onde se localizam as teses, que fica muito longe das prateleiras que portam os livros de filosofia. Fui perguntar para a atendente e ela também estranhou.

Não tinha jeito, tinha que pegar o livro e ler. Para minha surpresa, o livro estava reservado para aquele mesmo dia.

Como se já não bastasse, ao abrir o caderno Mais! na Folha de ontem, vejo um artigo do Jorge Coli que comentava sobre a apresentação da ópera "Pelléas et Mélisande", no Teatro Amazonas de Manaus, e fazia um paralelo com... adivinhem ... sim, com "A Água e o Sonhos".

Não, não estou achando que é uma pista ou um alerta divino. Mas é inegável a natureza intrigante do acontecimento.

Pra terminar, transcrevo do livro um trecho que me chamou atenção:

"Há sempre um silêncio extraordinário... Ouviríamos a água dormir. Parece que, para bem compreender o silêncio, nossa alma tenha necessidade de ver alguma coisa que se cale; para ter certeza do repouso, tem necessidade de sentir perto dela um grande ser natural que dorme."



imagem: deviantART


"Sonhos", de Akira Kurosawa. Obra-prima do cinema, filme que recomendo com entusiasmo total.

Mais uma cena de "Sonhos"