terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vou de ônibus - III - Onde está a Carol?

Carol? Você está aí?



Entre as tragédias e comédias que vivemos e ouvimos dentro de um ônibus, diversas beiram o fantástico e estampam fatos que podem parecer impossíveis de acontecer. Coisas para serem transmitidas no "Assombrações",da Discovery Channel ou até em The Mentalist, CSI e outros suspenses policiais.

Era uma sexta-feira, à noite, e estava voltando da faculdade. O ônibus com destino certo para a minha casa parou e minha tristeza veio rapidamente quando percebi que ele estava lotado. Sem maior alarde, porém, subi e tratei de já ir para o fundo. Afinal, se é pra brincar de tropa de choque, melhor jogar já, até porque não sabia quantas pessoas mais iriam subir no veículo.

Após aquele sacrifício típico, consegui chegar ao fundo e ficar próximo à porta. O ônibus foi enchendo de uma forma que eu tinha a impressão de que, 5 pontos após eu subir, não tinha decido ninguém ainda, enquanto alguns milhares de cidadãos deviam ter embarcado.

A expressão facial e os olhares diziam o mesmo de sempre: "estamos cansados, trabalhamos o dia inteiro e apenas queremos chegar em casa!".

Tinha tudo para ser mais um dia normal de ônibus cheio. Mas não! Subiram no ônibus algumas garotas. Não consegui vê-las por motivos óbvios: havia, mais ou menos, umas 40 cabeças na minha frente. No entanto, pude ouvi-las. Elas simplesmente não conheciam o conceito de silêncio. Nada contra conversar, mas desde que em tom baixo, já que se encontravam num transporte público, lotado de pessoas morrendo de sono e com caras de múmias reumáticas. Não, as "amigas" falavam alto, com um timbre irritante e quase gritando. Pareciam combinar algum compromisso para o dia seguinte e também pareciam querer tornar o convite público.

Para minha surpresa, elas não demoraram muito para chegar ao fundo e, então, pude avistá-las e perceber que estavam com mochilas nas costas. Não deviam ter mais que 16 anos.

Conversa vai, conversa foi, até que uma delas percebeu que faltava alguém no time:

Menina 1: - Ué, cadê a Carol?

Menina 2: - Nossa, cadê a Carol, meu?

Menina 3(4957684576045 decibéis): - CAROOOOOOOOOOOOLLLLLLLLL!!!!!! VOCÊ TÁ AÍ????????

Menina 2(4957684576045 decibéis): - OH CAROOOOOOLLLLLLL!!!!!

Menina 1: - Calma gente, ela não deve ter conseguido passar, deve estar lá na frente.

Menina 2: - AH, olha ela lá! ( apontou pra frente e viu que Carol acenava, como se quisesse dizer para esperarem, pois ela já estava indo).

Menina 3: - Achou ela aí?

Menina 2: - Ela tá vindo!


Conversa vai, conversa foi...

Menina 1: - Meu, por que a Carol ainda não veio?

Menina 2: - Nossa, é mesmo neh!

Menina 1: - Meu, cadê a Carol, cara?

Menina 3: - Nossa, não é possível!

Menina 2(4957684576045 decibéis): - OH CAROOOOOOOOOOOLLLLLLLLL!!!!


(ninguém responde)

Menina 1: - Meu, tá chegando no ponto, cadê a Carol?

Menina 3: - Não to vendo ela! Ela tava lá agora mesmo(aponta para perto do cobrador, onde se encontrava Carol alguns minutos antes).

Menina 1(4957684576045 decibéis): - OH CAROL, A GENTE VAI DESCER!!!!

(ninguém responde)

Menina 2: - E agora? A gente não pode descer sem a Carol!

Menina 3: - Mas ela não tá aqui, só pode ter descido!

Menina 1: - Liga pro celular dela, neh der!


( A Menina 3 tentou ligar, mas parece que ninguém atendia)


Menina 2: - Meu, vamos descer! Já passou um ponto do nosso!


(as 3 meninas desceram preocupadas)




Não sei quem é essa tal Carol que desapareceu. Mas fico imaginando o que aconteceu com ela. Talvez ela seja a única pessoa de bom senso "do grupinho" e tenha resolvido se retirar após cansar de ouvir gritos dentro de um ônibus.


Para ilustrar uma noite já peculiar, sobe no ônibus um vendedor de trufas, com uma cesta cheia delas. Não parecia ser diferente do tipo que já conhecemos; aquele que discursa que podia estar roubando ou matando, mas está dignamente tentando arrecadar fundos para voltar pra Bahia. No entanto, o vendedor causou espanto ao anunciar os sabores das trufas que vendia:

Vendedor: - Tem 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Coco, Morango, Chocolate, Chocolate Branco, Brigadeiro, Café, Nozes, Rum e Brigadeiro.

(as expressões dos passageiros revelavam uma sensação curiosa: "estou muito cansado ou ele repetiu 3 vezes o brigadeiro?")

Como todo vendedor, ele ia passando pelo ônibus e repetindo o discurso, até que disse pela 2ª vez os sabores:

Vendedor: - Tem 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Coco, Morango, Chocolate, Chocolate Branco, Brigadeiro, Café, Nozes, Rum e Brigadeiro.

(algumas feições de espanto se transformavam em um sorriso, um riso contido, uma pequena gargalhada)

Repete pela 3ª vez:

Vendedor: - Tem 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Coco, Morango, Chocolate, Chocolate Branco, Brigadeiro, Café, Nozes, Rum e Brigadeiro.



AChei sensacional! Também vou vender trufas,Na hora de anunciar os sabores, direi:

- Tenho 10 sabores de trufas: Brigadeiro, Brigadeiro, Brigadeiro, Chocolate, Alpino, Nozes, Brigadeiro, Café, Brigadeiro e Rum. Ah não, tenho 11. Faltou um: brigadeiro!



Juro que não tinha trocado. Se tivesse comprava uma trufa. Adivinhem de que sabor.


Esse merecia!



Chegou o meu ponto e desci!






Trufa de Brigadeiro!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O exotismo de André Gide

O escritor André Gide



O francês André Gide era filho de pais protestantes e deixa claro, por meio de suas poesias, a infância triste e solitária que teve. Homossexual assumido, ele sempre lutou contra qualquer tipo de moralismo ou puritanismo. Seus poemas ficaram marcados pelo exotismo.

Por acaso, nesses dias, li algo extraordinário desse autor: Os Frutos da Terra. Sem dúvida foi um dos textos que mais me impressionaram. O livro é quase um poema em prosa e aborda os nossos sentidos em contato com a natureza, tudo com um entusiasmo raro. A obra não deixa de lado o erotismo e a sensualidade.

Deixo na coluna ao lado o poema Copo de Água.